Esta tese concentra-se na investigação do sistema simbólico e das práticas xamânicas dos guarani tchiripa-phain, especialmente em relação à sua cataclismologia e à busca por yvy marã´ey - a \"terra sem mal\". com base em uma etnografia realizada no tekoa kuri´y, localizado em biguaçu, santa catarina, o objetivo central é compreender como esse grupo lida com a iminência do colapso de seu mundo conforme suas cosmologias, tendo também em vista o contexto de uma crise ambiental global. através de uma descrição analítica do xamanismo tchiripa-phain, utilizo suas categorias para pensar a práxis xamânica e como esta articula uma ontologia animista com princípios de relacionalidade e estratégias cosmopolíticas que atuam como mecanismos de controle da entropia cósmica, evitando a desintegração social e o fim do mundo. ao investigar as propriedades do pensamento deste grupo, conclui-se que os guarani se utilizam de diversos procedimentos para distanciarem-se de práticas e valores dissonantes ao nhandereko, o modo de ser guarani. tomando as sociedades divinas como o modelo ideal de sociedade a ser alcançado, a busca pela terra sem mal aparece como um elemento ordenador da socialidade, responsável por organizar as relações sociais e orientar as estratégias de preservação do nhandereko. destacam-se elementos como a produção do corpo e da pessoa guarani, análogos à produção de uma sociedade imperecível. a pesquisa revela a presença de um princípio fundamental da cosmopolítica tchiripa-phain: a compreensão de que todos os seres são dotados de intencionalidades e desejos que se desdobram em pensamentos e ações práticas. a este modelo de relacionalidade dou o nome de cosmopolítica dos desejos. o modelo conceitual da cosmopolítica dos desejos, fundamentado no xamanismo tchiripa-phain, suscita à nossa compreensão os diferentes padrões de interação e de que maneira evocamos o apocalipse, enquanto a sociedade tchiripa-phain evoca a permanência. os resultados ressaltam a importância de revisitar temas clássicos da antropologia no contexto das crises atuais, traçando paralelos entre cosmologias indígenas e preocupações globais como o antropoceno. neste sentido, reflito quanto ao colapso ambiental e social atual, propondo soluções inspiradas nas cosmologias e práticas indígenas. o estudo conclui refletindo como as práticas de resistência e adaptação dos guarani oferecem perspectivas alternativas para enfrentar os desafios ecológicos enfrentados pela humanidade hoje. trata-se de uma etnografia sobre os guarani que explora as dinâmicas que sustentam a resistência desse grupo, permitindo uma reflexão sobre nossas próprias formas de habitar o mundo diante da crise ambiental contemporânea.