Esta dissertação investiga as concepções indígenas sobre o processo de adoecimento e cura no alto xingu, com ênfase na saúde mental, a partir da experiência etnográfica da autora como psicóloga do dsei xingu e pesquisadora em antropologia social. o estudo analisa os itinerários terapêuticos de indivíduos e famílias indígenas, explorando como se articulam práticas biomédicas, xamânicas e religiosas nos cuidados de saúde. parte-se da noção de que os estados alterados, comumente medicalizados no modelo biomédico, são interpretados pelas comunidades indígenas a partir de suas cosmologias, redes de parentesco e experiências relacionais e espirituais. utilizando os conceitos de estados alterados, itinerários terapêuticos, autoatenção e intermedicalidade, a pesquisa evidencia como as comunidades indígenas mobilizam múltiplos saberes e agentes terapêuticos para enfrentar o adoecimento. a metodologia empregada baseia-se em observação participante, entrevistas e registro etnográfico. a política pública de saúde indígena, embora normativamente orientada pela atenção diferenciada, ocasionalmente pode operar através da lógica biomédica. a intermedicalidade, nesse contexto, aparece como campo de negociação e integração. o trabalho contribui para a compreensão das complexidades que envolvem o processo de saúde e doença nestes contextos interculturais, propondo uma atenção às epistemologias indígenas e ao papel das espiritualidades no processo terapêutico. a pesquisa destaca a importância de políticas que reconheçam e articulem diferentes formas de produzir saúde e cuidado, com base em uma perspectiva crítica e intercultural.