Este trabalho investiga aspectos da inserção das biotecnologias no ensino de química por meio de um estudo de caso comparativo entre duas escolas públicas de campo grande, mato grosso do sul (ms), onde esse tema se apresenta de diversas formas, sendo a soja transgênica uma das mais importantes. a transgenia vem se alastrando e ganhando importância da sociedade atual, mas é motivo de debates científicos quanto aos riscos à saúde, ecologia e sociedade. essa pesquisa objetiva discutir as compreensões sobre biotecnologias de professores de química do ensino médio e as relações que eles estabelecem entre esse tema e o ensino de química, visando à educação para democratização da tomada de decisão. assim, discutiram-se as relações entre química e biotecnologias com relação às controvérsias do tema, por meio da insuficiência do conceito de equivalência substancial e relevância do princípio da precaução. defendeu-se a tomada de decisão com processo multifatorial, que considere outros conhecimentos além dos conceitos científicos (que são insuficientes para embasar a decisão). assim, discutiram-se valores e paradigmas subjacentes à química e as biotecnologias como um conteúdo pedagógico, integrando referenciais cts latino-americanos e freireanos, a partir de temas controversos. investigaram-se como os temas biotecnológicos estão sendo discutidos na mídia, nos trabalhos publicados em revistas científicas da área de ensino e em um livro didático adotado pelas escolas. de modo complementar, foram analisadas pela análise textual discursiva (atd) as compreensões sobre as biotecnologias de dois professores de uma escola urbana e de um professor de uma escola agrícola (os casos comparativos), a partir de cinco categorias a priori e de subcategorias emergentes dos sentidos das falas dos professores: (1) relação entre química e biotecnologias: suporte ao processo de produção; (2) abordagens das biotecnologias no ensino de química, com as subcategorias abordagem atual e dificuldades para abordagem; (3) justificativas para a abordagem das biotecnologias no ensino de química, subdividida em preparação para atuar na sociedade e formação profissional; (4) percepções de risco biotecnológico: a certeza científica; e (5) aspectos para tomada de decisão sobre temas biotecnológicos, com as subcategorias certezas científicas e nenhuma alternativa e valores e mitos. a revisão em periódicos e ld e as entrevistas indicaram que as biotecnologias ainda são pouco compreendidas e que as suas relações com o ensino (de química e de ciências) ainda não foram suficientemente exploradas pelos educadores e químicos. os professores entrevistados compreendem as biotecnologias como processo produtivo, mas não mencionaram abertamente a contribuição da química na situação. na inserção das biotecnologias no ensino de química, eles focalizaram mais as abordagens metodológicas (como a necessária multidisciplinaridade e a importância da experimentação) do que as relações conceituais. a formação de professores foi defendida por eles para superar a falta de conhecimentos em biotecnologia e refletir sobre a docência. eles apresentaram justificativas ingênuas sobre o papel da educação para a participação social, a tomada de decisões e a libertação social. foi com base na certeza científica que se formularam as suas percepçoes de risco bitecnológico, com pouca influência contextual, e também a sua aceitação dos transgênicos. enfim, essa pesquisa possibilitou encontrar que os obstáculos a serem superados para inserir as biotecnologias no ensino (de química) são os mitos da atividade científica, com atenção para a crença na certeza científica, os objetivos pedagógicos e os valores que os subjazem. defende-se, portanto, a discussão desses fatores tanto na formação inicial e/ou permanente, quanto em livros didáticos.